Arquivo do dia: 6 06-03:00 outubro 06-03:00 2011

“O rei está nu!”

Por Rodrigo Dantas
“Nas últimas semanas, ruas e praças foram tomadas por milhares de pessoas que protestam contra o governo”. Uma notícia como esta poderia se referir hoje a dezenas de países: Azerbaijão, Chile, China, Espanha, EUA, Filipinas, Grécia, Indonésia, Israel, Itália, Portugal, Reino Unido, Rússia, Tailândia, Bahrein, Egito, Jordânia, Marrocos, Líbia, Síria, Palestina, Tunísia, Iêmen etc. O ano de 2011 ainda não chegou ao fim, mas será lembrado pela derrubada dos governos da Tunísia e do Egito e o início da Revolução Árabe. Este ano de 2011 será lembrado ainda por marcar o início das ocupações de praças e dos grandes protestos na Europa, na esteira da maior crise do capitalismo mundial no pós-guerra, em que o “Pacto do Euro” pretende rebaixar salários e aposentadorias, cortar gastos e serviços públicos, privatizar o que resta para ser privatizado e liquidar o que sobrou do Estado Social para alimentar o sistema rentista e parasitário da divída estatal.
A se julgar pelo que nos educou nas últimas décadas, algo está “fora da ordem” que nos ensinaram a imaginar como a única possível. Durante décadas, ouvimos da mídia e da maioria dos ideólogos e intelectuais que estaríamos destinados a uma longa era de prosperidade econômica e estabilidade política global. Durante décadas, aprendemos que a sociedade de mercado seria a forma natural da sociabilidade humana; sua globalização, na esteira da restauração do capitalismo na URSS, no Leste Europeu e na China, estaria destinada a desenvolver as forças produtivas, incorporar bilhões de pessoas ao consumo de massas e inaugurar uma era em que os progressos que haviam sido feitos na Europa, nos EUA e no Japão seriam estendidos a todo o mundo na “sociedade do conhecimento”. Durante décadas, foi este o discurso dos intelectuais, dos políticos, dos governos, da universidade e dos meios de comunicação. Durante décadas, ouvimos o eco deste discurso na voz de figuras como Michel Foucault, Jürgen Habermas e todos que alardearam a necessidade da criação de uma nova esquerda. Durante décadas, ouvimos o eco deste discurso na voz de muitos daqueles que foram os partidos, intelectuais e dirigentes da revolução. Se suas previsões tivessem se confirmado, as pessoas não teriam motivo para ir às ruas, e não estaríamos em meio àquela que está caminhando para se tornar a maior crise da história do capitalismo mundial.